quarta-feira, 26 de novembro de 2014

O meu pai


Coloquei uma fotografia do meu pai (Manuel José de Magalhães Mexia Duarte Alves), no Facebook e tive tantos likes e comentários que me senti na obrigação de responder desta forma:
Muito obrigado a todos os que puseram like e a todos os comentários tão simpáticos, tão queridos e tão sentidos de quem o conheceu bem.

 Sei que todos os que conheceram bem o meu pai o têm em alta estima, pela sua forma de estar e pelo exemplo de vida que levou.

Muito seguro e discreto, fiel incondicional aos seus princípios, nunca se deixou levar por modas, nem deixou de fazer o que entendia ser correto.

A minha mãe diz que o meu pai era “a rock”.

Nunca o ouvi dizer mal de ninguém, mas ouvi-o elogiar algumas pessoas.

“Má-língua” não lhe interessava. Desviava logo a conversa dizendo “isso são lérias”.

O que mais gostava era de estar com toda a família em Monte Real. No Natal chegávamos a estar cerca de 100. Os irmãos divertiam-no imenso. 

Profissionalmente, penso que ética é a palavra que melhor o define.

As suas notáveis qualidades não passavam despercebidas e antes de ter 30 anos já era diretor geral da Covina.

Mais que o seu trabalho na direção da empresa e na construção de uma segunda fábrica sofisticadíssima, o que mais me marcou foi o seu envolvimento e forte empenho na construção do bairro social para os 1.200 trabalhadores da empresa. 

Apesar de grandes contratempos em 1975, nunca o vi a apontar o dedo a ninguém. Explicava-me que era normal, que uma revolução era como uma barragem que rebentava...

Quando foi preciso, teve a coragem e o bom senso de emigrar para sustentar a família. Custou-lhe horrores. Ao domingo costumava beber um cálice de aguardente de Carvide, virado para Portugal e a ouvir cassetes do irmão dele Joaquim a cantar fado.

Ao fim de muitos anos conseguiu voltar para Portugal e mais uma vez a sua competência e retidão, fizeram com que o seu lugar como um dos administradores da Empresa das Águas do Areeiro, se mantivesse mesmo quando o meu pai já estava muito doente. Estarei sempre muito grato ao Sr. Domingues Pérez, homem que o meu pai tanto admirava.

E morreu. Muito cedo. Com 69 anos. Faz agora 14 anos. 

A lotaria genética fez com que esta alma e mais cinco, sejam o fruto do amor de um pai e de uma mãe extraordinários. O seu exemplo foi o maior testemunho que nos deixou.

Agradeço a todos os que me acham parecido fisicamente com o meu pai. Quem me dera…
Às vezes acho que tenho algo dele, mas como dizia Gabriel García Márquez: "Un hombre sabe que está envejeciendo porque empieza a parecerse a su padre".


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