segunda-feira, 9 de março de 2015

Sejam bem-educados

O ano passado, durante a entrega dos diplomas na prestigiada escola de comunicação Le Celsa, ligada à universidade da Sorbonne, o seu presidente terá pedido modéstia aos diplomados citando Flaubert: “Diplôme: signe de science. Ne prouve rien.”
Apadrinhava este evento Nicolas de Tavernost, presidente do grande grupo francês de audiovisual e multimédia “M6”, que deu alguns conselhos aos jovens que iam entrar na vida profissional: trabalhar, obstinar-se, falar uma língua estrangeira. E depois acrescentou: “Sejam bem-educados.”

Li isto no verão de 2014, numa crónica do “Le Figaro Magazine” e fiquei a pensar neste conselho sui generis.

E com base nos entraves que ultrapassei na vida profissional, cheguei à conclusão que a recomendação não é descabida:
Já repararam que os problemas surgem mais vezes por uma questão de atitude que de aptitude?

Se a boa-educação nunca foi óbvia, hoje ainda é menos, já que o desmazelo vulgarizou-se e o ensino nacional deixou de “educar”.
A ausência de educação vê-se na rua, na escola, na televisão, nos locais de trabalho. A linguagem e pensamento grosseiros imperam.
Herança de 68, da crise nas famílias e do individualismo?

Nos anos 80, poucos defendiam a boa educação. Esta falta de interesse surgiu com um novo tipo de vida aceleradíssima, com o culto da performance, com o espirito de competição…

Em Portugal, um dos reflexos dos anos 80 foram as manifestações estudantis de 1994, em que milhares de jovens manifestantes tiveram um comportamento inqualificável, insultando e mostrando o rabo. Na altura foi uma novidade.
Foi quando o jornalista Jorge Vicente Silva usou a polémica e excessiva expressão: “geração rasca”.

Esses estudantes dos anos 80 e 90 são hoje adultos com responsabilidades e a verdade é que muitos tiveram direito a passagens administrativas, fomentando-se a irresponsabilidade. Se acrescentarmos a isso que alguns dos seus pais os educaram com laxismo, negligência, ausência de valores e sem lhes transmitirem os princípios da liberdade responsável, o resultado não é famoso, já que sem moral e sem ética, muitos destes adultos praticam a mentira, manipulação e abusam da impunidade moral, vivendo apenas para os seus interesses.
O mundo da finança, das empresas, da política e o Estado estão cheio deles, como infelizmente se tem visto nos últimos anos.

A classe média, que cresceu a um ritmo alucinante nas últimas décadas, ansiosa, como é natural, de ter tudo o que os seus antepassados nunca tiveram, endeusou o consumo e as aparências, tratando todos os outros como números, não reparando que eles próprios se estavam a tornar num número para os demais.
A vulgarização acabou por ir forçando barreiras e mesmo os mais resistentes acabaram por adaptar-se. Passou tudo a ser banal e quase nada sobressai.
Veja-se em Espanha, o tratamento por “tu”, que se começou timidamente a utilizar em Valencia nos anos 40 e que está hoje totalmente aceite. Se no princípio dos anos 80 ainda havia alguma hesitação, sendo-se algumas vezes tratado por tu e outras vezes por “usted”, hoje o “tu cá, tu lá” é prática comum.

Em resumo: Educação, saber-estar, savoir-vivre e savoir-faire, caíram em desuso.

No entanto, mesmo que as novas tecnologias tenham alterado ainda mais a relação com a boa-educação, não deixa de ser verdade que desde há uns anos para cá recomeçou-se a dar-lhe importância.

Ainda bem que muitos gestores, incluindo alguns portugueses, já perceberam que contratar profissionais bem-educados só traz vantagens. Ser educado é mais uma competência. Rara.
Parece que também a geração com menos de 30 anos começa a achar que é grave faltar ao respeito a um professor. Pequenos indícios que começam a mostrar recetividade à boa-educação.
Em França começam a surgir muitos cursos de formação, dados por empresas como a Adecco, que ensinam aos profissionais como estar à mesa, a exprimir-se corretamente, a escrever sem erros…

Mas o que é ser bem-educado?
Antes de mais é um sinal de respeito e consideração pelos outros e por si próprio.
A seguir é a arte de dizer tudo, mas como deve ser, nas circunstâncias apropriadas e com as palavras adequadas.
E depois é saber regras de etiqueta, para se sentir à vontade em qualquer meio social ou ocasião e não causar desconforto aos outros.
Muito disto aprende-se, mas a maior parte tem a ver com sensibilidade e bom senso.

Bom exemplo de que a boa-educação só traz vantagens profissionais, é a aristocracia em França. Não são mais que 0,2% da população francesa, mas se olharmos para as grandes empresas cotadas no CAC 40, vemos que muitos dos presidentes das grandes empresas pertencem a esta minoria social. AXA, Saint Gobain, Carrefour, Fimalac, Aéroport de Paris, são algumas das empresas que dirigem. Destes faz parte o barão Nicolas Bellet de Tavernost, presidente do grupo M6, o tal que deu o conselho: Sejam bem-educados.
Percebe-se que sabia do que estava a falar. Homme du monde e de sucesso, cultiva a discrição. Sabe que os seus estudos, aliados a uma excelente educação familiar, deram-lhe um savoir-faire que é a chave do seu sucesso. Honra, respeito pela palavra dada, sentido de responsabilidade, honestidade, entreajuda, são qualidades que fazem parte do seu código de conduta.
Em Portugal também temos alguns, mas para evitar polémica destaco apenas um por trabalhar no estrangeiro. O competentíssimo António Mota de Sousa Horta Osório a quem o governo inglês incumbiu de salvar o banco Lloyds e que em 2014 já obteve um resultado líquido de mais de dois mil milhões de Euros.
Estes homens “educados” não são ingénuos, nem “meninos de coro”, mas têm em comum inteligência, cultura, altos estudos, excelente educação, pensamentos bem estruturados, respeito pelo outro e cultivam as relações sociais.

Cristina Marques Fernandes, autora do livro “Manual de Protocolo Empresarial”, completaria o parágrafo anterior dizendo como já escreveu: “Alguns acham que saber estar é um comportamento inatingível e maçador, prerrogativa de uma minoria privilegiada pelo estatuto social ou pela fortuna. Outros, julgo eu mais sensatos, sabem que o saber estar é uma postura que deve ser assumida por cada um, não só na vida social como, sobretudo, na vida profissional, onde o percurso académico e a experiência podem já não ser garantia de colocação e/ou sucesso.”

Infelizmente, é consensual que os clientes são “reis” e os fornecedores para continuarem a vender “engolem bastantes sapos”. Cada vez mais. Mas quando os próprios fornecedores e colegas de trabalho também se tornam difíceis e obstinados não respondendo aos e-mails e telefonemas, aí temos um problema grave e global de má-educação em que todos perdem.
E se todos perdem há que mudar tudo.

Assim, voltando às novas tecnologias que têm alterado ainda mais a relação com a boa-educação, é natural que os conselhos sejam dirigidos aos mais novos - utilizadores compulsivos das novas tecnologias - que estão a começar o seu percurso profissional e que podem representar a mudança desde o primeiro dia de trabalho.

Sim, ser bem-educado acaba por compensar já que traz grande satisfação e benefícios. Quem é que não gosta de ter um interlocutor atento, cordial e educado? Essa atitude é muitas vezes retribuída.
Privilegiar as reuniões e os contactos pessoais. É aí que se avaliam os outros e que surgem ideias e soluções. Não em 2 linhas de um e-mail.
Receber as pessoas, responder aos e-mails, atender os telefones, ou assim que possível devolver as chamadas, são simples atitudes com um efeito tão imediatamente positivo que motivam a ir mais longe na procura da boa-educação.

E para os que não conseguem ver vantagem em ser educados para com todos, mas apenas para os que lhe trazem benefícios, recordo a fábula “O leão e o rato” de La Fontaine, em que o leão não comeu o rato, que por sua vez veio a salvar a vida do leão. Não devemos ter a arrogância de subestimar os outros. Somos frequentemente ajudados pelos “mais pequenos”.
Il faut autant qu’on peut obliger tout le monde :
On a souvent besoin d’un plus petit que soi.









quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Se estamos a ter bons resultados, é porque alguma coisa deve estar a funcionar.


Tudo indica que as coisas não estão a correr tão mal quanto a oposição e os milhões de derrotistas e pessimistas nos querem fazer querer.

Em 2014 o PIB português cresceu 0,9%.
Por uma vez que o PIB português cresceu - interrompendo três anos seguidos de recessão económica  – vêm logo os jornalistas, socialistas e outros “istas”, dizer que crescimento fica abaixo das estimativas do Governo, que apontava um crescimento de 1%!

ISTO É PURA MÁ-FÉ! Os analistas e as instituições nacionais e internacionais apontavam para um intervalo de variação do PIB entre 0,8% e 1%.
Já sem falar que a OCDE em Maio de 2013 previa que 2014 fosse mais um ano de desilusão, com a economia a estagnar nos 0,2%...
Os portugueses, que já levam com tanta austeridade e passam tantas dificuldades sem praticamente se queixarem, não deviam ter que levar com mais esta demagogia e derrotismo.

Será que os portugueses não têm direito a um pouco de folga nas suas inquietações e alegrar-se com o que o de positivo vai acontecendo para ir ganhando ânimo e ímpeto para seguir em frente?
Estamos tão dependentes dos outros países, que é muito difícil prever como vão correr os próximos anos, mas sem otimismo, empreendedores e população em geral não avançam.

Os principais motores das economias são o otimismo e a confiança, daí estarem periodicamente a serem divulgados os Indicadores de confiança dos consumidores e de clima económico da Indústria transformadora, construção e obras públicas, comércio e serviços. Não só nacionais, mas também internacionais, já que dependemos da procura dos outros países para crescermos.
Ainda agora, a propósito do Turismo em Portugal que em 2014 bateu recordes, o Secretário de Estado Adolfo Mesquita Nunes associa a recuperação à melhoria da confiança dos portugueses na economia e às estratégias dos empresários.
Conclusão: confiança gera estratégias que beneficiam a economia.

No último programa “Governo Sombra”, João Miguel Tavares dizia que não se deveria dizer sistematicamente mal de tudo.
Devia-se apontar o que correu mal, o que correu menos bem, mas também o que correu bem.

Vivo da economia real, e estes valores positivos ainda não se refletiram na minha atividade, mas como todos os que querem avançar e não podem parar, tomo uma dose de otimismo de manhã e vou trabalhar. E não parar, mesmo quando está tudo mal à nossa volta, representa momentos de angústia na solidão da decisão.
Assim, estas vitórias nacionais e estrangeiras são cruciais para decidirmos se vamos investir numa feira no estrangeiro, se abrimos uma filial ou se contratamos mais um colaborador.

Um empreendedor que esteja constantemente a ver as notícias e a ouvir a oposição ao governo, ficará no mínimo desanimado e com menos apetência para o risco.
Um estudo feito em 2012 por Sean Dagan Wood à imprensa britânica, revelou que os artigos positivos só representam 16% das notícias. Isto é francamente desanimador.
Quanto aos políticos que nos massacram com discursos derrotistas, populistas e demagogos têm falta de respeito pelos portugueses, são injustos e intelectualmente desonestos. 

O ministro da economia, Pires de Lima, como gestor que é, sabe bem distinguir as empresas da política.

Ele pediu “para que não se confunda política com o trabalho das empresas.” E diz mais: “ O Governo não exporta. O nosso papel é facilitar a vida às empresas, é abrir mercados, é ajudar as empresas a afirmarem-se."

Elogia também “o enorme esforço de empresários, gestores e trabalhadores”, “capaz de operar este feito que está a mudar a economia portuguesa” e critica os que desvalorizam estes resultados. “Desvalorizar este crescimento não é desvalorizar o trabalho do Governo, é desvalorizar o trabalho das empresas.”

 

“Tenho alguma dificuldade em perceber porque não aceitamos, de uma vez por todas, que, se estamos a ter bons resultados, é porque alguma coisa deve estar a funcionar". Palavras de João Cotrim Figueiredo presidente do Turismo de Portugal, com as quais estou totalmente de acordo.

 

Assim, como tudo o que está mal é amplamente divulgado e como sabemos que a Dívida Pública não tem parado de aumentar, (segundo a edição de janeiro 2015 do IGCP, representa 217.126 milhões de Euros), aqui ficam alguns dados que me parecem bem mais encorajadores para que a economia cresça e a dívida pública se vá pagando.

Começando por 2014:

- 2014 foi o melhor ano de sempre a nível de exportações com um crescimento próximo dos 3%. As exportações cresceram pelo terceiro ano consecutivo.

- 2014 foi o ano recorde do turismo em Portugal. O saldo da balança turística no país deverá atingir 7.000 milhões de Euros, o que representa cerca de 4% do PIB.
Os estabelecimentos hoteleiros tiveram um crescimento de 11% em relação a 2013, tendo os proveitos dos hotéis crescido a um ritmo superior ao das dormidas.

- 2014 foi o ano em que o desemprego baixou para 13,9%.

- A 17 de maio de 2014, Portugal abandonou oficialmente o resgate sem qualquer programa cautelar. (O programa de ajustamento solicitado por Portugal à 'troika' (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI), no valor de 78 mil milhões de euros, esteve em vigor durante cerca de três anos.)

2015:
A) Factos:

- Portugal vai reembolsar antecipadamente os empréstimos do FMI. (Portugal recebeu um total de 26,5 mil milhões de euros do FMI)
“O reembolso antecipado irá resultar em poupanças líquidas de pagamentos de juros na ordem dos 500 milhões de euros e terá um impacto positivo na sustentabilidade da dívida portuguesa.” É o próprio vice-presidente da Comissão Europeia responsável pelo Euro, Valdis Dombrovskis, que o afirma.

- Portugal tem conseguido emitir dívida com taxas historicamente baixas: Títulos a 10 anos com uma taxa de 2,5% (o juro cobrada pelo FMI é de 3,5%) e ainda hoje 3 e 11 meses a taxas de juro de 0,061% e 0,138%.

- Todas as Instituições portuguesas e estrangeiras preveem que a economia portuguesa vai crescer mais do que em 2014 e que o desemprego vai descer ao longo do ano.

B) Previsões para 2015 (As previsões valem o que valem, mas não nos tirem a alegria de acreditar nelas):
- Segundo o Guia Laboral 2015 da Hays, o mercado das contratações vai animar a economia nacional em 2015, com destaque para a indústria, TI e turismo e Lazer.
Também o retalho e grande distribuição, contabilidade e finanças, e farmacêuticas estão a recuperar e o marketing e vendas ganham impulso.

- Em 2015 espera-se que a retoma da economia prossiga e, consequentemente, seja um ano mais desafogado para os agregados familiares. De acordo com as previsões do Banco de Portugal e do Governo, a economia nacional deverá crescer 1,5% no próximo ano, sustentado pelo aumento das exportações e também na produtividade das empresas.
- O banco holandês ING confia que apesar de “a retoma ser ainda muito frágil”, a atividade económica em Portugal deverá ser mais robusta ao longo deste ano. O que ajudará o governo a baixar o défice orçamental para “cerca de 3% do PIB” e a dívida “pode descer para perto, mas ainda acima, de 120% do PIB”.
O que me preocupa em 2015:
- O ano 2015 trouxe novas variáveis políticas e económicas que podem interferir com o nosso desenvolvimento a nível internacional.
A única solução é fazermos um esforço adicional para sermos ainda mais inovadores na abordagem aos mercados.

- As Legislativas. Que o próximo partido a ganhar as eleições não desperdice o enorme esforço que os portugueses fizeram.
Espero que quem vota em Portugal, veja bem no que deu o “conto de fadas” grego, para que não se repita à custa dos portugueses.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

LIBERTÉ, ÉGALITÉ, FRATERNITÉ

O terrorismo, seja na Nigéria, Síria, Iraque, Paquistão, (onde o mês passado foram assassinadas mais de 140 crianças), é horroroso.

Tão horroroso como o terrorismo que ocorre na Europa.

Infelizmente o mundo acorda quase todos os dias com mais uma notícia de terrorismo e convenhamos - que por serem tantos e em países longínquos que não conhecemos bem - apenas damos valor no momento em que sabemos do sucedido. Depois não se fala mais desse caso.

A prova é que nas redes sociais portuguesas, poucos são os debates que se fazem quando esses países são vítimas de terrorismo. Algumas pessoas postam o link do jornal que tem um artigo sobre esse assunto, alguns dos seus amigos comentam “que horror!” e fica-se por aqui.

O que até certo ponto é “compreensível”, pois em geral, não conhecemos bem esses países, não sabemos bem o que motiva esses atos, quem são essas etnias e populações, o que os divide, porque se perseguem e chacinam.

Devemos repudiar veementemente estes atos, mas no geral o comum dos portugueses e ocidentais não têm conhecimentos suficientes de antropologia, história ou geopolítica para debater cada ato terrorista passado em países tão distantes uns dos outros e tão díspares na sua maneira de ser. Apenas os podemos lamentar e esperar que os nossos representantes políticos deem o seu melhor contributo para resolver esses conflitos.

Por uma vez que a sociedade portuguesa se sente afetada e chocada com o terrorismo, acho redutor e contraproducente ir-se de imediato buscar todas as outras grandes causas, como se esta não bastasse.

O terrorismo ocorrido em Paris conseguimos debatê-lo, pois todos temos a perceção do que se passa, quem são os terroristas, onde vivem, como se tornaram extremistas e o que os motiva.

E este debate é crucial, porque ESTE terrorismo talvez esteja ao nosso alcance resolvê-lo ou minimizá-lo.

Se não nos limitarmos a debater profundamente o que aconteceu em Paris e na Europa, e atirarmos para o ar todos os outros casos, acabamos por não nos envolvermos a sério em causa nenhuma.
                                                    
Um número de mortos mais elevado não faz de um ato terrorista mais hediondo que um outro no qual, por sorte, houve menos vítimas.

Todos sabemos que o objetivo do terrorismo é matar o maior número de pessoas possível. Basta ver a frieza e gratuitidade com que foi morto o polícia em Paris e como no dia seguinte outra mulher polícia foi abatida sem razão aparente e um funcionário da limpeza atingido. Estas vítimas vêm apenas provar que os terroristas só querem matar gente, como aconteceu no supermercado judeu, pelo que se conclui que a linha editorial do Charlie Hebdo não passa de mais um ódio e um pretexto para matar.

Tudo leva a crer que se estes terroristas de Paris tivessem tido meios e oportunidade teriam feito operações muito maiores e morto muita mais gente.

Há muita gente que não gosta dos cartoons porque os acha insultuosos e por isso escreveram “não sou Charlie”. Respeito a sensibilidade dos que assim pensam, mas a meu ver, para a maioria das pessoas o “je suis Charlie”, manifesta apenas que não estão dispostos a perder a Liberdade Expressão e sobretudo que não vão ceder à chantagem do terrorismo.

Foi por essas razões que na semana dos atentados estive presente na manifestação na Câmara do Porto, promovida pelo Rui Moreira, (onde infelizmente apenas estavam presentes escassas dezenas de portugueses).

Não tenho dúvidas que se forem dadas hipóteses aos terroristas, depois dos cartunistas serão assassinados os que escrevem e falam nos meios de comunicação, seguindo-se nós todos que nos manifestamos nos blogues e redes sociais, ao mesmo tempo que todos os outros que passam na rua.

Por isso tantos milhões de pessoas se têm manifestado contra a brutalidade do extremismo que está a aterrorizar o Ocidente. Todos eles sabem que podem estar expostos à barbárie, mas não se querem render ou conformar.

Tenho ficado atónito e chocado por ver opiniões no Facebook a justificarem o sucedido com a linha editorial do Charlie Hebdo. Basicamente dizem que “são contra o terrorismo mas que o Charlie estava a pedi-las. Mas são contra o terrorismo.”

Neste momento de grande tragédia e luto, é no mínimo contraproducente debater o tema da Liberdade de Expressão. Essa discussão deve ser feita noutra altura, até porque representa pouco do muito que o terrorismo tem feito. Será que não vêm as decapitações na televisão?

E isto ainda não acabou, pois como temos visto nos últimos dias, na Bélgica, França e Alemanha têm sido desmanteladas vários grupos de terroristas que se preparavam para atuar. Alguns deles chegados da Síria com experiência de guerra.

O terrorismo MATA.

Este não é um tema qualquer que possa ser tratado de forma ligeira, nem utilizado para fazer desabafos no Facebook. É um assunto que merece sermos construtivos. Deveríamos ser todos INCONDICIONALMENTE contra o terrorismo.

O debate sobre o terrorismo na Europa é da maior importância, não só porque o terrorismo não tem parado mas porque todos somos potenciais vítimas.

Se um filho nosso morrer vítima de terrorismo - em Paris, ou em Madrid (onde em 11 de Março de 2004 explodiram bombas em 4 comboios, matando 191 pessoas e ferindo 1.700), ou em Londres (onde em Julho 2005 houve 3 explosões no Metro e 1 num autocarro, matando 52 pessoas e ferindo 700) - quero ver qual é o pai que vai escrever no seu mural de Facebook “eu não sou isto ou aqueloutro”, ou  “eu sou do país longínquo “X” onde também rebentou uma bomba que ainda matou mais gente”.

Pois é…

O assunto diz-nos respeito e de que maneira.

Não vale a pena tapar o sol com a peneira dizendo que em Portugal não temos terrorismo e que a culpa é dos franceses que são muito tolerantes.

Os portugueses estão espalhados por toda a Europa e os nossos filhos estão em Erasmus nas várias cidades europeias e a arranjar empregos em Inglaterra, França, Bélgica, etc.

Não se pode relativizar o que aconteceu em Paris, tentando arranjar uma explicação de ordem politica. O terrorismo é hediondo, sobretudo quando é praticado nos países que acolhem e dão liberdade a esses mesmos terroristas. Já lá vai o tempo do terrorismo politico, praticado por separatistas, ou grupos marxistas. Agora é um terrorismo gratuito, de puro ódio e que tem que ser combatido como uma guerra.

A questão agora é: Como se resolve?
Há 10 anos, quando jovens incendiaram carros e agrediram bombeiros, o então ministro do Interior, Sarkozy tratou-os de "racailles et voyous". Mas surpreendentemente nas entrevistas de rua, os franceses eram tolerantes. Diziam que em parte compreendiam, pois se morassem nas mesmas condições que esses jovens... 
E a violência continuou a aumentar ano após ano. 
Ninguém imaginava que poucos anos depois muitos iriam engrossar as fileiras do auto-proclamado Estado Islâmico, espalhando o terror pela Síria e Iraque.
...E agora em Paris.

Parece que em Paris, jovens portugueses que vivem nos mesmos bairros que muçulmanos estão a converter-se ao islamismo. E filhos de franceses também. E demasiados estão a ir para a Síria.

França tem um problema interno para resolver, mas também já é tempo de todos os Serviços Secretos do Ocidente se unirem e partilharem as informações. O facto de França ter sido posta de parte por se opor à invasão do Iraque tem que terminar, porque a invasão já era, o resultado está à vista e o radicalismo aumenta traduzindo-se num maior número de terroristas. Há uns anos havia centenas de terroristas na Europa, agora há milhares.

Neste momento que os franceses estão consternados, chocados e indignados pelos acontecimentos trágicos que assolaram a França atingindo-os no mais profundo da sua alma, é o momento para que o debate aconteça. Serenamente mas com resultados construtivos e eficazes.

Quanto a mim estou com França, ligado aos seus valores universais que tão bem soube espalhar pelo mundo: LIBERTÉ, ÉGALITÉ, FRATERNITÉ.