sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

LIBERTÉ, ÉGALITÉ, FRATERNITÉ

O terrorismo, seja na Nigéria, Síria, Iraque, Paquistão, (onde o mês passado foram assassinadas mais de 140 crianças), é horroroso.

Tão horroroso como o terrorismo que ocorre na Europa.

Infelizmente o mundo acorda quase todos os dias com mais uma notícia de terrorismo e convenhamos - que por serem tantos e em países longínquos que não conhecemos bem - apenas damos valor no momento em que sabemos do sucedido. Depois não se fala mais desse caso.

A prova é que nas redes sociais portuguesas, poucos são os debates que se fazem quando esses países são vítimas de terrorismo. Algumas pessoas postam o link do jornal que tem um artigo sobre esse assunto, alguns dos seus amigos comentam “que horror!” e fica-se por aqui.

O que até certo ponto é “compreensível”, pois em geral, não conhecemos bem esses países, não sabemos bem o que motiva esses atos, quem são essas etnias e populações, o que os divide, porque se perseguem e chacinam.

Devemos repudiar veementemente estes atos, mas no geral o comum dos portugueses e ocidentais não têm conhecimentos suficientes de antropologia, história ou geopolítica para debater cada ato terrorista passado em países tão distantes uns dos outros e tão díspares na sua maneira de ser. Apenas os podemos lamentar e esperar que os nossos representantes políticos deem o seu melhor contributo para resolver esses conflitos.

Por uma vez que a sociedade portuguesa se sente afetada e chocada com o terrorismo, acho redutor e contraproducente ir-se de imediato buscar todas as outras grandes causas, como se esta não bastasse.

O terrorismo ocorrido em Paris conseguimos debatê-lo, pois todos temos a perceção do que se passa, quem são os terroristas, onde vivem, como se tornaram extremistas e o que os motiva.

E este debate é crucial, porque ESTE terrorismo talvez esteja ao nosso alcance resolvê-lo ou minimizá-lo.

Se não nos limitarmos a debater profundamente o que aconteceu em Paris e na Europa, e atirarmos para o ar todos os outros casos, acabamos por não nos envolvermos a sério em causa nenhuma.
                                                    
Um número de mortos mais elevado não faz de um ato terrorista mais hediondo que um outro no qual, por sorte, houve menos vítimas.

Todos sabemos que o objetivo do terrorismo é matar o maior número de pessoas possível. Basta ver a frieza e gratuitidade com que foi morto o polícia em Paris e como no dia seguinte outra mulher polícia foi abatida sem razão aparente e um funcionário da limpeza atingido. Estas vítimas vêm apenas provar que os terroristas só querem matar gente, como aconteceu no supermercado judeu, pelo que se conclui que a linha editorial do Charlie Hebdo não passa de mais um ódio e um pretexto para matar.

Tudo leva a crer que se estes terroristas de Paris tivessem tido meios e oportunidade teriam feito operações muito maiores e morto muita mais gente.

Há muita gente que não gosta dos cartoons porque os acha insultuosos e por isso escreveram “não sou Charlie”. Respeito a sensibilidade dos que assim pensam, mas a meu ver, para a maioria das pessoas o “je suis Charlie”, manifesta apenas que não estão dispostos a perder a Liberdade Expressão e sobretudo que não vão ceder à chantagem do terrorismo.

Foi por essas razões que na semana dos atentados estive presente na manifestação na Câmara do Porto, promovida pelo Rui Moreira, (onde infelizmente apenas estavam presentes escassas dezenas de portugueses).

Não tenho dúvidas que se forem dadas hipóteses aos terroristas, depois dos cartunistas serão assassinados os que escrevem e falam nos meios de comunicação, seguindo-se nós todos que nos manifestamos nos blogues e redes sociais, ao mesmo tempo que todos os outros que passam na rua.

Por isso tantos milhões de pessoas se têm manifestado contra a brutalidade do extremismo que está a aterrorizar o Ocidente. Todos eles sabem que podem estar expostos à barbárie, mas não se querem render ou conformar.

Tenho ficado atónito e chocado por ver opiniões no Facebook a justificarem o sucedido com a linha editorial do Charlie Hebdo. Basicamente dizem que “são contra o terrorismo mas que o Charlie estava a pedi-las. Mas são contra o terrorismo.”

Neste momento de grande tragédia e luto, é no mínimo contraproducente debater o tema da Liberdade de Expressão. Essa discussão deve ser feita noutra altura, até porque representa pouco do muito que o terrorismo tem feito. Será que não vêm as decapitações na televisão?

E isto ainda não acabou, pois como temos visto nos últimos dias, na Bélgica, França e Alemanha têm sido desmanteladas vários grupos de terroristas que se preparavam para atuar. Alguns deles chegados da Síria com experiência de guerra.

O terrorismo MATA.

Este não é um tema qualquer que possa ser tratado de forma ligeira, nem utilizado para fazer desabafos no Facebook. É um assunto que merece sermos construtivos. Deveríamos ser todos INCONDICIONALMENTE contra o terrorismo.

O debate sobre o terrorismo na Europa é da maior importância, não só porque o terrorismo não tem parado mas porque todos somos potenciais vítimas.

Se um filho nosso morrer vítima de terrorismo - em Paris, ou em Madrid (onde em 11 de Março de 2004 explodiram bombas em 4 comboios, matando 191 pessoas e ferindo 1.700), ou em Londres (onde em Julho 2005 houve 3 explosões no Metro e 1 num autocarro, matando 52 pessoas e ferindo 700) - quero ver qual é o pai que vai escrever no seu mural de Facebook “eu não sou isto ou aqueloutro”, ou  “eu sou do país longínquo “X” onde também rebentou uma bomba que ainda matou mais gente”.

Pois é…

O assunto diz-nos respeito e de que maneira.

Não vale a pena tapar o sol com a peneira dizendo que em Portugal não temos terrorismo e que a culpa é dos franceses que são muito tolerantes.

Os portugueses estão espalhados por toda a Europa e os nossos filhos estão em Erasmus nas várias cidades europeias e a arranjar empregos em Inglaterra, França, Bélgica, etc.

Não se pode relativizar o que aconteceu em Paris, tentando arranjar uma explicação de ordem politica. O terrorismo é hediondo, sobretudo quando é praticado nos países que acolhem e dão liberdade a esses mesmos terroristas. Já lá vai o tempo do terrorismo politico, praticado por separatistas, ou grupos marxistas. Agora é um terrorismo gratuito, de puro ódio e que tem que ser combatido como uma guerra.

A questão agora é: Como se resolve?
Há 10 anos, quando jovens incendiaram carros e agrediram bombeiros, o então ministro do Interior, Sarkozy tratou-os de "racailles et voyous". Mas surpreendentemente nas entrevistas de rua, os franceses eram tolerantes. Diziam que em parte compreendiam, pois se morassem nas mesmas condições que esses jovens... 
E a violência continuou a aumentar ano após ano. 
Ninguém imaginava que poucos anos depois muitos iriam engrossar as fileiras do auto-proclamado Estado Islâmico, espalhando o terror pela Síria e Iraque.
...E agora em Paris.

Parece que em Paris, jovens portugueses que vivem nos mesmos bairros que muçulmanos estão a converter-se ao islamismo. E filhos de franceses também. E demasiados estão a ir para a Síria.

França tem um problema interno para resolver, mas também já é tempo de todos os Serviços Secretos do Ocidente se unirem e partilharem as informações. O facto de França ter sido posta de parte por se opor à invasão do Iraque tem que terminar, porque a invasão já era, o resultado está à vista e o radicalismo aumenta traduzindo-se num maior número de terroristas. Há uns anos havia centenas de terroristas na Europa, agora há milhares.

Neste momento que os franceses estão consternados, chocados e indignados pelos acontecimentos trágicos que assolaram a França atingindo-os no mais profundo da sua alma, é o momento para que o debate aconteça. Serenamente mas com resultados construtivos e eficazes.

Quanto a mim estou com França, ligado aos seus valores universais que tão bem soube espalhar pelo mundo: LIBERTÉ, ÉGALITÉ, FRATERNITÉ.

 

 

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