Tão horroroso como o terrorismo que ocorre na Europa.
Infelizmente o mundo acorda quase todos os dias com mais uma
notícia de terrorismo e convenhamos - que por serem tantos e em países
longínquos que não conhecemos bem - apenas damos valor no momento em que
sabemos do sucedido. Depois não se fala mais desse caso.
A prova é que nas redes sociais portuguesas, poucos são os
debates que se fazem quando esses países são vítimas de terrorismo. Algumas
pessoas postam o link do jornal que tem um artigo sobre esse assunto, alguns
dos seus amigos comentam “que horror!” e fica-se por aqui.
O que até certo ponto é “compreensível”, pois em geral, não
conhecemos bem esses países, não sabemos bem o que motiva esses atos, quem são
essas etnias e populações, o que os divide, porque se perseguem e chacinam.
Devemos repudiar veementemente estes atos, mas no geral o
comum dos portugueses e ocidentais não têm conhecimentos suficientes de
antropologia, história ou geopolítica para debater cada ato terrorista passado
em países tão distantes uns dos outros e tão díspares na sua maneira de ser.
Apenas os podemos lamentar e esperar que os nossos representantes políticos
deem o seu melhor contributo para resolver esses conflitos.
Por uma vez que a sociedade portuguesa se sente afetada e
chocada com o terrorismo, acho redutor e contraproducente ir-se de imediato
buscar todas as outras grandes causas, como se esta não bastasse.
O terrorismo ocorrido em Paris conseguimos debatê-lo, pois
todos temos a perceção do que se passa, quem são os terroristas, onde vivem,
como se tornaram extremistas e o que os motiva.
E este debate é crucial, porque ESTE terrorismo talvez esteja
ao nosso alcance resolvê-lo ou minimizá-lo.
Se não nos limitarmos a debater profundamente o que aconteceu
em Paris e na Europa, e atirarmos para o ar todos os outros casos, acabamos por
não nos envolvermos a sério em causa nenhuma.
Um número de mortos mais elevado não faz de um ato terrorista
mais hediondo que um outro no qual, por sorte, houve menos vítimas.
Todos sabemos que o objetivo do terrorismo é matar o maior
número de pessoas possível. Basta ver a frieza e gratuitidade com que foi morto
o polícia em Paris e como no dia seguinte outra mulher polícia foi abatida sem
razão aparente e um funcionário da limpeza atingido. Estas vítimas vêm apenas
provar que os terroristas só querem matar gente, como aconteceu no supermercado
judeu, pelo que se conclui que a linha editorial do Charlie Hebdo não passa de
mais um ódio e um pretexto para matar.
Tudo leva a crer que se estes terroristas de Paris tivessem
tido meios e oportunidade teriam feito operações muito maiores e morto muita
mais gente.
Há muita gente que não gosta dos cartoons porque os acha
insultuosos e por isso escreveram “não sou Charlie”. Respeito a sensibilidade
dos que assim pensam, mas a meu ver, para a maioria das pessoas o “je suis
Charlie”, manifesta apenas que não estão dispostos a perder a Liberdade
Expressão e sobretudo que não vão ceder à chantagem do terrorismo.
Foi por essas razões que na semana dos atentados estive
presente na manifestação na Câmara do Porto, promovida pelo Rui Moreira, (onde
infelizmente apenas estavam presentes escassas dezenas de portugueses).
Não tenho dúvidas que se forem dadas hipóteses aos
terroristas, depois dos cartunistas serão assassinados os que escrevem e falam
nos meios de comunicação, seguindo-se nós todos que nos manifestamos nos
blogues e redes sociais, ao mesmo tempo que todos os outros que passam na rua.
Por isso tantos milhões de pessoas se têm manifestado contra
a brutalidade do extremismo que está a aterrorizar o Ocidente. Todos eles sabem
que podem estar expostos à barbárie, mas não se querem render ou conformar.
Tenho ficado atónito e chocado por ver opiniões no Facebook a
justificarem o sucedido com a linha editorial do Charlie Hebdo. Basicamente
dizem que “são contra o terrorismo mas que o Charlie estava a pedi-las. Mas são
contra o terrorismo.”
Neste momento de grande tragédia e luto, é no mínimo
contraproducente debater o tema da Liberdade de Expressão. Essa discussão deve
ser feita noutra altura, até porque representa pouco do muito que o terrorismo
tem feito. Será que não vêm as decapitações na televisão?
E isto ainda não acabou, pois como temos visto nos últimos
dias, na Bélgica, França e Alemanha têm sido desmanteladas vários grupos de
terroristas que se preparavam para atuar. Alguns deles chegados da Síria com
experiência de guerra.
O terrorismo MATA.
Este não é um tema qualquer que possa ser tratado de forma
ligeira, nem utilizado para fazer desabafos no Facebook. É um assunto que
merece sermos construtivos. Deveríamos ser todos INCONDICIONALMENTE contra o
terrorismo.
O debate sobre o terrorismo na Europa é da maior importância,
não só porque o terrorismo não tem parado mas porque todos somos potenciais
vítimas.
Se um filho nosso morrer vítima de terrorismo - em Paris, ou
em Madrid (onde em 11 de Março de 2004 explodiram bombas em 4 comboios, matando
191 pessoas e ferindo 1.700), ou em Londres (onde em Julho 2005 houve 3
explosões no Metro e 1 num autocarro, matando 52 pessoas e ferindo 700) - quero
ver qual é o pai que vai escrever no seu mural de Facebook “eu não sou isto ou
aqueloutro”, ou “eu sou do país longínquo “X” onde também rebentou uma
bomba que ainda matou mais gente”.
Pois é…
O assunto diz-nos respeito e de que maneira.
Não vale a pena tapar o sol com a peneira dizendo que em
Portugal não temos terrorismo e que a culpa é dos franceses que são muito
tolerantes.
Os portugueses estão espalhados por toda a Europa e os nossos
filhos estão em Erasmus nas várias cidades europeias e a arranjar empregos em
Inglaterra, França, Bélgica, etc.
Não se pode relativizar o que aconteceu em Paris, tentando
arranjar uma explicação de ordem politica. O terrorismo é hediondo, sobretudo
quando é praticado nos países que acolhem e dão liberdade a esses mesmos
terroristas. Já lá vai o tempo do terrorismo politico, praticado por
separatistas, ou grupos marxistas. Agora é um terrorismo gratuito, de puro ódio
e que tem que ser combatido como uma guerra.
A questão agora é: Como se resolve?
Há 10 anos, quando jovens incendiaram carros e agrediram bombeiros, o então ministro do Interior, Sarkozy tratou-os de "racailles et voyous". Mas surpreendentemente nas entrevistas de rua, os franceses eram tolerantes. Diziam que em parte compreendiam, pois se morassem nas mesmas condições que esses jovens...
E a violência continuou a aumentar ano após ano.
Ninguém imaginava que poucos anos depois muitos iriam engrossar as fileiras do auto-proclamado Estado Islâmico, espalhando o terror pela Síria e Iraque.
...E agora em Paris.
Há 10 anos, quando jovens incendiaram carros e agrediram bombeiros, o então ministro do Interior, Sarkozy tratou-os de "racailles et voyous". Mas surpreendentemente nas entrevistas de rua, os franceses eram tolerantes. Diziam que em parte compreendiam, pois se morassem nas mesmas condições que esses jovens...
E a violência continuou a aumentar ano após ano.
Ninguém imaginava que poucos anos depois muitos iriam engrossar as fileiras do auto-proclamado Estado Islâmico, espalhando o terror pela Síria e Iraque.
...E agora em Paris.
Parece que em Paris, jovens portugueses que vivem nos mesmos
bairros que muçulmanos estão a converter-se ao islamismo. E filhos de franceses
também. E demasiados estão a ir para a Síria.
França tem um problema interno para resolver, mas também já é
tempo de todos os Serviços Secretos do Ocidente se unirem e partilharem as
informações. O facto de França ter sido posta de parte por se opor à invasão do
Iraque tem que terminar, porque a invasão já era, o resultado está à vista e o radicalismo
aumenta traduzindo-se num maior número de terroristas. Há uns anos havia
centenas de terroristas na Europa, agora há milhares.
Neste momento que os franceses estão consternados, chocados e
indignados pelos acontecimentos trágicos que assolaram a França atingindo-os no
mais profundo da sua alma, é o momento para que o debate aconteça. Serenamente mas
com resultados construtivos e eficazes.
Quanto a mim estou com França, ligado aos seus valores
universais que tão bem soube espalhar pelo mundo: LIBERTÉ, ÉGALITÉ, FRATERNITÉ.
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