quarta-feira, 26 de novembro de 2014

O meu pai


Coloquei uma fotografia do meu pai (Manuel José de Magalhães Mexia Duarte Alves), no Facebook e tive tantos likes e comentários que me senti na obrigação de responder desta forma:
Muito obrigado a todos os que puseram like e a todos os comentários tão simpáticos, tão queridos e tão sentidos de quem o conheceu bem.

 Sei que todos os que conheceram bem o meu pai o têm em alta estima, pela sua forma de estar e pelo exemplo de vida que levou.

Muito seguro e discreto, fiel incondicional aos seus princípios, nunca se deixou levar por modas, nem deixou de fazer o que entendia ser correto.

A minha mãe diz que o meu pai era “a rock”.

Nunca o ouvi dizer mal de ninguém, mas ouvi-o elogiar algumas pessoas.

“Má-língua” não lhe interessava. Desviava logo a conversa dizendo “isso são lérias”.

O que mais gostava era de estar com toda a família em Monte Real. No Natal chegávamos a estar cerca de 100. Os irmãos divertiam-no imenso. 

Profissionalmente, penso que ética é a palavra que melhor o define.

As suas notáveis qualidades não passavam despercebidas e antes de ter 30 anos já era diretor geral da Covina.

Mais que o seu trabalho na direção da empresa e na construção de uma segunda fábrica sofisticadíssima, o que mais me marcou foi o seu envolvimento e forte empenho na construção do bairro social para os 1.200 trabalhadores da empresa. 

Apesar de grandes contratempos em 1975, nunca o vi a apontar o dedo a ninguém. Explicava-me que era normal, que uma revolução era como uma barragem que rebentava...

Quando foi preciso, teve a coragem e o bom senso de emigrar para sustentar a família. Custou-lhe horrores. Ao domingo costumava beber um cálice de aguardente de Carvide, virado para Portugal e a ouvir cassetes do irmão dele Joaquim a cantar fado.

Ao fim de muitos anos conseguiu voltar para Portugal e mais uma vez a sua competência e retidão, fizeram com que o seu lugar como um dos administradores da Empresa das Águas do Areeiro, se mantivesse mesmo quando o meu pai já estava muito doente. Estarei sempre muito grato ao Sr. Domingues Pérez, homem que o meu pai tanto admirava.

E morreu. Muito cedo. Com 69 anos. Faz agora 14 anos. 

A lotaria genética fez com que esta alma e mais cinco, sejam o fruto do amor de um pai e de uma mãe extraordinários. O seu exemplo foi o maior testemunho que nos deixou.

Agradeço a todos os que me acham parecido fisicamente com o meu pai. Quem me dera…
Às vezes acho que tenho algo dele, mas como dizia Gabriel García Márquez: "Un hombre sabe que está envejeciendo porque empieza a parecerse a su padre".


sexta-feira, 25 de julho de 2014

Os Políticos comentadores, os DDT e o Liberalismo Económico


1) Já chega de políticos-comentadores!

Os políticos-comentadores são em grande parte responsáveis pelo desinteresse e falta de credibilidade que o povo tem pela política e pelos políticos.

O país chegou à crise em que está atolado, devido a quase todos os políticos das últimas décadas. É claro que governos como o de Sócrates potenciaram ao máximo a chegada da crise, mas todos os outros, da direita à esquerda foram coniventes, permitindo despesismo desnecessário, clientelas, favores, corrupção, etc. Nada disto é novo e todos já chegaram a esta conclusão.

Mas quando estoira uma bomba, vem-se a saber mais qualquer coisita e o povo fica estupefacto por terem passado leis atrás de leis, sem que nem o partido comunista tenha feito estardalhaço suficiente para alertar os portugueses. Et pour cause:
 
No âmbito das eleições autárquicas de 2005, 2009 e 2013 o PCP recorreu a empréstimos no BES, o que não os impede de agora comunicarem “não só a justeza das posições do PCP contra os processos de privatização da banca comercial, mas sobretudo o perigo que constituiu para os interesses nacionais, o processo de reconstituição monopolista de que o BES e o GES são particular expressão”.
EXTRAORDINÁRIO! Todos iguais.
Seria de esperar que o PCP se financiasse na Caixa Geral de Depósitos…

Os da extrema-esquerda têm a cassete metida que toca sempre a mesma coisa: mais salários, menos horas de trabalho, mais direitos, etc., a oposição seja ela socialista, do centro ou da direita, criticam molemente os governos, com insultos mas sem grandes argumentos. Tipo “os cães ladram e a caravana passa impassível”. E os governos vão andando, as leis vão passando, as reformas do Estado nunca se fazem e Portugal vai-se languidamente atrasando até à exaustão.

De repente veio a verificar-se aquilo que há anos todos comentavam circunstancialmente, já que ao mesmo tempo parecia irreal.

Os donos disto tudo sempre existem.

As leis e não só, eram, (são) feitas à medida dos grandes grupos económicos. Fazem-se favores de parte a parte e ao fim garantem-se empregos para uns e contratos faraónicos para outros, mesmo que para isso o Estado e os portugueses sejam escandalosamente prejudicados. Quem vier atrás que fecha a porta.

Esta semana, com Ricardo Salgado detido para interrogatório, foi o máximo para as televisões e jornais. Já estávamos em velocidade de cruzeiro na “silly season”, quando de repente cai uma bomba mesmo a calhar para o negócio. Aumentos a pique das tiragens dos jornais, das audiências das rádios e televisões. E lá vêm uns atrás dos outros, as dezenas ou centenas de comentadores.

Confesso que para formar uma opinião, ouvi bastantes. Mas sempre que ouvia um político comentar, ao fim de poucos instantes mudava de canal, pois ou vinham com a famosa frase do até prova em contrário é-se inocente e de aí não saiam, ou criticavam tudo e todos, como é habitual.

Quando mudei três vezes de canal percebi que à parte a falta de interesse do que diziam, estavam a provocar-me náuseas. Então todos eles foram ministros, secretários de Estado, deputados, autarcas, presidentes de partidos, etc., aprovaram as leis que fizeram de alguns os donos disto tudo e vêm como se nada fosse comentar o estado atual das coisas? Chegámos onde chegámos, porque mesmo os que não roubaram ficaram à porta. Um político comentador, à parte ter muita lata é totalmente desprovido de vergonha. Quando estiveram no Poder deixaram que o país se fosse afundando e agora criticam os que lá estão? Mas de que é feita esta gente? Ferreiras Leite, Marques Mendes, Marcelos, Bagões Félix, Sócrates, Antónios Costa, Pachecos Pereira, etc., etc.

Apesar do zapping acabei por ouvir mais Manuela Ferreira Leite.
 
2) Quanto ao que ouvi:

Estou de acordo com Manuela Ferreira Leite quando disse que não havia necessidade de irem buscar Ricardo Salgado a casa, uma vez que ele tinha proposto a deslocar-se ao TIC.

A Justiça, antes de fazer este estardalhaço, deveria primeiro preparar bem o caso antes de “fazer a festa”. Quem acredita na Justiça quando se trata de poderosos. Por certo que a este nível grandes escritórios de advogados já estão a preparar a defesa e que provavelmente o Estado não vai ter meios para responder com eficácia.   

Como Manuela Ferreira Leite, também não fiquei feliz por um dos maiores grupos portugueses se poder vir a desmoronar e por o seu presidente ir preso. É uma pena se ele cometeu crimes, pois Portugal tem poucos grandes grupos económicos e os países para se desenvolverem precisam de grandes grupos. Honestos.

Dito isto, que a Justiça funcione.

Não me agradou “os pezinhos de lã" como Manuela Ferreira Leite e um comentador do CDS, abordaram o assunto.

O partido socialista não ouvi, mas também deve estar tão comprometido como os outros.

Os partidos estão todos comprometidos. Desde há décadas que o dinheiro flui a rodos para os partidos, todos os políticos vinham de, ou iam para quadros dos grandes grupos, sobretudo do GES e assim se alteraram as leis do país, fazendo-as à medida dos grandes grupos.

O que os políticos comentam, pouco ou nada interessa. Têm todos telhados de vidro. Mesmo os que parecem mais sérios. Alguém acredita que uma pessoa com anos de atividade partidária e cargos políticos não sabe o que se passa, ou passou?

Manuela Ferreira Leite também fez parte de vários governos e do parlamento na altura em que os grandes grupos mais desenvolveram as suas teias. O que fez então em relação a isto? Nada.

Só como comentadora é que começou a disparar tiros certeiros.

Manuela Ferreira Leite disse “Há problemas piores do que os do sector público”, dando o exemplo das auto-estradas vazias que “não são para beneficiar os utentes, são para beneficiar quem as construiu. Não em nome do interesse público mas do interesse privado.” “Achámos que a origem de todos os males é o sector público mas não é. O défice público está quase controlado e o país não cresce”, concluiu.

Pois não. Mas de quem é a culpa? Dos secretários de Estado, ministros, deputados e autarcas que passaram pelos sucessivos governos e que nada fizeram para impedir que as autoestradas vazias fossem construídas para beneficiar apenas quem as construiu.

Este governo também não tem as mãos limpas, (veja-se a lei que promulgou permitindo que o presente de 14 milhões que Ricardo Salgado recebeu, ficasse na Suíça), mas Manuela Ferreira Leite não tem moral para falar em relação ao que tem sido feito por este governo, pois que fez ela de tão relevante quando foi ministra das Finanças? Um desastre: não hesitou em dar luz verde aos famosos SWAPS, negócio ruinoso que comprometeu a receita fiscal nos anos seguintes, colocando-nos à mercê do casino financeiro, acumulando cerca de 3 mil milhões de perdas potenciais para os cofres públicos.
Quanto às reformas Manuela Ferreira Leite também não fez nada.
Nem tinha capacidade para fazer, já que em Novembro de 2008 Manuela Ferreira Leite disse “eu não acredito em reformas quando se está em democracia", mas no mesmo discurso acusou o Governo de então de ter falhado as reformas da Educação, da Saúde, da Administração Pública e da Justiça. Fantástico.

Se não acredita, porque é que aceitou os cargos de maior responsabilidade do país?

Até hoje nenhum governo fez a verdadeira Reforma do Estado. Não quiseram ou não tiveram coragem. Tanto faz. Não fizeram.

Ouvi também Carlos Tavares na Assembleia da República a dizer o que todos queriam ouvir:

Que instaurou 20 processos de contraordenação contra entidades pertencentes ao GES, dando a entender que, ultrapassando nalguns casos as competências da CMVM, fez muitas recomendações e alertas, mas que quem tinha que atuar, (talvez Banco de Portugal e Governo), não deu a devida importância.
Queixou-se também das pressões que sofreu por parte do GES para que houvesse o aumento de capital. (Sentiu-se pressionado mas acabou por aceitar o aumento de capital… patético. Ou não falava nisso por o aumento de capital ser necessário e legal, ou então não tem estofo para aguentar a pressão que é exigida ao presidente da CMVM.)

Gostei muito de ouvir na SIC o painel no qual interveio o José Gomes Ferreira. Esses sim, sem telhados de vidro, expuseram claramente a podridão de tudo isto, dizendo que no fundo, com todas as alterações de leis que foram feitas à medida dos grandes grupos, passamos todos a trabalhar para os grandes grupos económicos. Assalariados, empresas, etc.

Ao ouvi-los fiquei com a nítida sensação de que no fundo foram criados reais monopólios e que o país nunca se poderá desenvolver nestes moldes.
 
E têm toda a razão, pois parece-me evidente que não vivemos num sistema de Liberalismo Económico. Para que vivêssemos um verdadeiro Liberalismo Económico, o Estado não deveria fazer mais que supervisionar, (coisa que praticamente não tem feito, ou têm feito muito mal), e deixar que a economia seguisse o seu curso, deixando todos os agentes económicos crescerem individualmente, o que evidentemente traria enormes benefícios para a nossa sociedade, uma vez que a soma desses interesses particulares promoveria a evolução generalizada.

Adam Smith, economista escocês, que desenvolveu a teoria do liberalismo, apontando como as nações iriam prosperar, afirma que enquanto o liberalismo económico favorece os mercados sem restrições por parte do governo, o Estado tem um papel legítimo no fornecimento de bens públicos.
 

3) Um banco tem que ser supervisionado de muito perto. É uma das principais funções do Banco de Portugal.

Oiço muita gente a falar dos bancos, como se de uma empresa normal privada se tratasse. Podem ser privados, mas são instituições de utilidade pública. É a eles que os cidadãos e as empresas confiam o seu dinheiro e é a eles que a economia recorre para crescer.

Muita gente diz que se deve deixar falir os bancos. As pessoas que o dizem certamente não têm as suas poupanças nesses bancos e deixar falir um banco pode ter um efeito dominó na banca e nos países. Esta crise mundial não começou com a falência do banco Lehman Brothers?

As pessoas em vez de se virarem contra os bancos deviam sim virar-se com toda a sua força contra as instituições do Estado, que têm por obrigação supervisionar as instituições financeiras. Esses sim, são os verdadeiros culpados e responsáveis.

Não tenhamos ilusões, a ganância faz parte do Ser Humano e poucos são os que se tiverem oportunidade não “fogem aqui ou acolá”. Um amigo dizia-me que é tudo uma questão de escala. E tem razão. Mas há escalas que podem ser entendidas com clemência e outras pela repercussão que têm no país não podem ser vistas com a mesma bonomia.  
 
Que bom que era se tudo isto não tivesse acontecido em vão e se as leis viessem a ser alteradas, permitindo um verdadeiro Liberalismo Económico, de forma a que a economia crescesse e Portugal progredisse.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

O Celibato dos Padres e a Ordenação das Mulheres

Há homens que tudo podem.

Até à eleição do papa Francisco havia tantos assuntos intocáveis… A maioria das pessoas e não apenas os conservadores, nem queriam ouvir falar de algo que saísse do que estava instituído.
 
De repente, a vontade de evolução do papa Francisco, aliada à sua competência, liderança, carisma, bondade e atitudes, galvanizaram as massas e (quase) todos acham natural pôr em questão o que ainda há tão pouco tempo era inquestionável. Há homens que tudo podem.
 
O facto de responder a qualquer pergunta, mesmo às mais incómodas, mostra que efetivamente está a desempenhar o seu cargo de coração aberto e muito focado no próximo. Afinal é disto que trata o Cristianismo.
 
Entendo que apesar da fé, falar de Deus e do Cristianismo, é sempre muitíssimo complexo e extremamente ousado.

Já falar da Igreja, que os homens começaram a organizar 4 a 5 séculos depois de Cristo, parece-me mais fácil e neste século XXI não vejo razão para fazermos da Igreja um tabu inquestionável. (Ao utilizar a palavra Igreja não estou a falar do Sacramento, mas da Organização.)
 
O mundo cresceu muito. Somos hoje mais de sete mil milhões de seres humanos e o Cristianismo está espalhado por todos os continentes, raças e civilizações. A Igreja tem um peso muito importante na vida de 1/3 da população mundial. As pessoas esperem que a Igreja as ajude, acompanhe e as conduza na sua vida religiosa, mas também que as entenda e perceba, que fique mais próxima delas e responda aos seus anseios.

E aqui as coisas complicam-se pois um asiático tem por trás uma civilização completamente diferente dum africano, ou dum europeu, ou dum americano. Todos somos muito diferentes uns dos outros. Como gerir uma organização global, moderna, em que cada vez há mais gente com instrução? Como gerir um mundo de civilizações tendo apenas como único ponto comum, o Cristianismo e tudo o que ser Cristão implica?
 
Ouvi D. José Policarpo dizer numa entrevista que a missão da Igreja é divulgar o Evangelho.

Concordo plenamente e penso que a Igreja tem desempenhado esse papel e o da Eucaristia, seriamente e convictamente. Mas essa divulgação pode estagnar ou morrer se a Igreja não se modernizar e cativar as pessoas a entrarem para ouvirem o Evangelho. Com a estagnação da Igreja e o progresso da civilização, quantas gerações pouco a pouco deixaram de ouvir falar em Deus? Quantos milhões, descendentes de católicos, jamais se lhes ocorre pensarem em Deus, Jesus ou Igreja? Longe da vista, longe do coração. O cristianismo continuará sempre a surpreender pela sua novidade, mas a Igreja tem que estar à vista para chegar aos corações.  

Mas para estar à vista é preciso progredir.
A obra criada por culturas anteriores é uma dávida, mas essa obra só tem continuidade se a cultura atual também tiver o seu próprio tempo, espaço e autonomia.

1)      O casamento dos padres:

Fiquei contente por o papa Francisco ter recentemente afirmado que o fim do celibato dos padres é um tema que pode ser debatido na Igreja. Disse que "por não ser um dogma de fé, a porta está sempre aberta." E também que "a Igreja Católica tem padres casados no rito oriental" e que "não se trata de um dogma, mas de uma regra de vida, que eu aprecio muito e que é uma dádiva à Igreja."

Apesar do papa ver vantagens no celibato, admite vir a discutir o assunto. E acredito que o vai fazer.

Francisco afirmou que "por enquanto sou a favor de que se mantenha o celibato com os prós e os contras que ele acarreta, porque são dez séculos de boas experiências, mais do que de falhas."

Compreendo-o, pois os dez séculos passados também estão impregnados em mim e também me é muito estranho pensar num padre casado.

Ainda por cima é um assunto que desperta pouco interesse nos fiéis, Apesar dos media…

A Igreja tem atravessado uma crise profunda, perdendo crentes onde era forte e ganhando poucos onde era fraca. Precisamos de padres.

Por exemplo, prevê-se que daqui a 10 anos a França só tenha 10.000 padres. Atualmente tem cerca de 20.000.
 
Olivier le Gendre, católico, especialista em Igreja, no seu livro “Confession d’un cardinal”, põe o dedo na ferida: A questão do celibato prende-se com questões financeiras. Foi aliás por essa questão que, há muitos séculos atrás, a Igreja institui o celibato. Os filhos herdavam a propriedade que a Igreja tinha dado ao padre para porvir ao seu sustento. Quando o padre morria era preciso voltar a comprar uma outra propriedade para o novo padre.

Também hoje em dia, um padre casado e com filhos criaria gigantescos problemas práticos. Seria necessário encontrar fontes de financiamento consideráveis para que lhes fosse assegurado um modo de vida suficiente para educarem serenamente os seus filhos. Teriam também que ter horários diferentes dos celibatários que estão disponíveis 24 horas por dia.

Parece que os bispos orientais queixam-se das dificuldades financeiras que acarreta um clero carregado com família.  

O celibato é efetivamente uma grande dávida à Igreja, mas espalhar a Fé é crucial.

E há muitos sítios onde por falta de padres as missas não são celebradas e o devido acompanhamento espiritual dessas populações também não é feito.

Se o fim do celibato for o caminho para termos muitos mais padres, penso que chegou a hora de se começar a preparar o caminho.

Mas, mais uma vez no livro de André le Gendre a questão é muito bem colocada: Só haverá padres casados quando aceitarmos a ideia de que o padre será diferente daquele que nos habituámos a ver nos últimos séculos. Não se pode esperar que esses padres casados se substituam aos padres que nós conhecemos desde há centenas de anos: o presbitério, a disponibilidade constante, o patrocínio da Igreja, a gestão das finanças e tantas outras questões…
 
O debate tem que começar por aqui e nem é certo que o casamento dos padres aumente o clero. Mas se a Igreja chegar à conclusão que com essa alteração o número de padres aumenta, então há que prepararmo-nos para essa mudança.

Nas últimas décadas temos passado por mudanças tão radicais e abruptas às quais acabamos por nos habituar tão rapidamente…


2)      Ordenação das mulheres para o ministério do sacerdócio apostólico:

 
Sou totalmente a favor da ordenação das mulheres para o ministério do sacerdócio apostólico.

Conheço grande parte dos argumentos contra o que defendo e nenhum me convence. Esses argumentos são históricos, antiquados e desenquadrados da realidade, tendo como base séculos de preconceitos sociais, sendo que proibição da ordenação sacerdotal das mulheres é matéria que pertence à doutrina católica e por isso até hoje não foi revista.

Quando o próprio D. José Policarpo em 2011 se pronunciou sobre a questão da ordenação das mulheres, afirmando que era “uma questão de igualdade fundamental de todos os membros da Igreja, impossibilitada apenas por questões de tradição que radicam no Novo Testamento”, sendo que teologicamente nada o impede, (e desta matéria sabia ele, já que era Doutor em teologia), caiu o Carmo e a Trindade. Foram tantos os protestos, inclusive do Vaticano, que ele tentou emendar a mão, sem que alguém ficasse convencido.

Sou casado e tenho três filhas e não vejo do ponto de vista humano, qualquer diferença entre um homem e uma mulher.

Fico chocado quando me apercebo que também as próprias mulheres entendem que só os homens devem ser sacerdotes.

Hoje, as mulheres estudam, trabalham como os homens, cada vez alcançam mais a lugares de topo nas suas profissões, são soldados, são presidentes de nações, são pilotos de caças (e sublinho este exemplo para lembrar que as mulheres passam em duríssimos testes físicos), têm sido grandes missionárias e incansáveis no que toca a obras de beneficência.

Comparando o sacerdócio com os médicos - outra profissão de grande vocação e que também é guardiã do respeito absoluto pela vida e, como na confissão, pelos segredos que lhe tiverem sido confiados pelos pacientes - há alguém que julgue que pelo facto de ser homem, um médico desempenha melhor o seu papel que uma médica? Tenho a certeza que não.

Então, honestamente e sem preconceitos, porque é que as mulheres não seriam também excelentes sacerdotes?

Se também para a Igreja é inquestionável a importância dos direitos humanos incluindo “a igualdade fundamental entre os homens e as mulheres e o dever de oferecer a todos as mesmas possibilidades”, porque não dá o exemplo?

 Mas onde nasce esta “diferença” entre o homem e a mulher?

1       Tudo tem um começo e uma prática que começa algures no tempo e que se enraíza nas culturas de uma forma inconsciente.

Se recorrermos à semiótica, a ciência geral dos signos e da semiose que estuda todos os fenómenos culturais como se fossem sistemas sígnicos, chegamos lá.

Um dos mais reputados semiólogos, Umberto Eco, o famoso, escritor, filósofo, linguista e bibliófilo, numa entrevista publicada este ano no “Le Figaro Magazine” a propósito do seu último livro “Construir o inimigo”, afirma que desde a origem do Ser Humano que existe o ódio do sexo masculino pelo sexo feminino. Apoia-se em “Mater sempre certa est”, (há sempre há certeza sobre quem é a mãe), e que o homem sempre se quis vingar desta inquietante incerteza. Assim durante muitos anos a mulher foi fechada dentro de casa a fim de se assegurar que a criança a nascer não seria filho de outro.

2      De aí nascem, já sem uma relação direta com o medo da paternidade, mas como uma declinação, as práticas antifeministas como a burka e a “construção” das bruxas.
 
3      Mas, se como afirma Umberto Eco, a origem desta diferença começa na incerteza da paternidade, os testes clínicos de paternidade deveriam permitir ao homem de hoje encarar a mulher como sua igual.
 
Temos que estar atentos aos sinais dos tempos para progredir.

O papa Francisco está atento. Nós temos que estar também.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Hoje sonhei com o papa Francisco.


Hoje sonhei com o papa Francisco.
 
Foi um sonho tão intenso e emotivo que o tenho bem presente na minha memória.

Como todos os sonhos, começou num desencadear de acontecimentos baralhados em que as coisas vão acontecendo sem muito nexo.

Estava com alguns dos meus tios e primos e entrámos para uma sala tipo “telheiro”, com mesas e bancos corridos.

O tio João trouxe uma travessa com um peixe grelhado enorme que pôs à frente do lugar da sua filha Joana. Avancei e vi que todas as outras travessas na mesa tinham grandes bifes. Percebi que a Joana não devia querer carne e o pai dela, sempre tão preocupado com os filhos, tinha-lhe trazido o tal peixe.

As mesas entretanto passaram a uma só mesa corrida, que no fundo da sala virava em angulo reto e continuava.

À minha frente estava sentado o tio António.

De repente, antes de começarmos a comer alguém começou a fazer uma oração e todos se calaram. Reparei sem surpresa que era o papa Francisco. Começou a falar e o que disse foi tão bonito e emotivo, que fiquei imediatamente com um nó na garganta e com os olhos molhados e a picarem-me.
O papa estava sentado à direita do tio António, mas a uns 5 metros dele.
À medida que ia falando reparou que eu estava muito emocionado e foi falando olhando-me cada vez mais, aproximando pouco a pouco do tio António para ficar mais perto de mim. À direita do papa Francisco, as pessoas começaram a desinteressar-se e a falar. O tio António olhava em frente mas estava a ouvi-lo com atenção. Eu estava maravilhado com o que o papa Francisco dizia e ia-me apercebendo da sorte que tinha de ele estar ali à minha frente, focando toda a sua atenção em mim. O sonho parecia já estar a ser uma realidade intensa, pois a emoção era tal que eu estava totalmente ciente da sorte que estava a ter e do momento único que estava a viver. Ele falava e olhava-me com aqueles olhos ternurentos cheios de amor. A sua expressão era meiga e segura. Éramos como pai e filho num momento único de plena sintonia.

Não me lembro do que o papa Francisco dizia, mas sei que tudo tinha a ver com tolerância. Alguém a certa altura disse “no fundo é para não sermos como os árabes”, ao que papa Francisco disse "que de maneira nenhuma e que não devíamos excluir qualquer povo ou cultura". Eu bebia as palavras dele que batiam todas certas.

E o despertador tocou.

O dia foi avançando, mas ainda estou a viver esse momento com uma intensidade como se realmente tivesse acontecido.

Tenho puxado imenso pela memória para me tentar lembrar de tudo, pois quero ficar este sonho para sempre.

Papa vem do grego e quer dizer pai. E hoje é dia do pai. Coincidência?

 

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Só sei que nada sei


...e não sei mesmo.

...e não sou desinteressado.

...e leio um pouco de tudo.

...e tenho capacidade de ouvir.

...e interesso-me por tudo um pouco, com entusiasmo.

...e só me entusiasmo com algo que me exalte.

...e há muitos temas que me exaltam.

...e muito me deixa a pensar.

...e penso muito.

...e gosto de pensar.

...e chego a pensar que entendi a verdade.

…mas de seguida, como Montesquieu :

... je ne trouvais la vérité que pour la perdre.