sexta-feira, 25 de julho de 2014

Os Políticos comentadores, os DDT e o Liberalismo Económico


1) Já chega de políticos-comentadores!

Os políticos-comentadores são em grande parte responsáveis pelo desinteresse e falta de credibilidade que o povo tem pela política e pelos políticos.

O país chegou à crise em que está atolado, devido a quase todos os políticos das últimas décadas. É claro que governos como o de Sócrates potenciaram ao máximo a chegada da crise, mas todos os outros, da direita à esquerda foram coniventes, permitindo despesismo desnecessário, clientelas, favores, corrupção, etc. Nada disto é novo e todos já chegaram a esta conclusão.

Mas quando estoira uma bomba, vem-se a saber mais qualquer coisita e o povo fica estupefacto por terem passado leis atrás de leis, sem que nem o partido comunista tenha feito estardalhaço suficiente para alertar os portugueses. Et pour cause:
 
No âmbito das eleições autárquicas de 2005, 2009 e 2013 o PCP recorreu a empréstimos no BES, o que não os impede de agora comunicarem “não só a justeza das posições do PCP contra os processos de privatização da banca comercial, mas sobretudo o perigo que constituiu para os interesses nacionais, o processo de reconstituição monopolista de que o BES e o GES são particular expressão”.
EXTRAORDINÁRIO! Todos iguais.
Seria de esperar que o PCP se financiasse na Caixa Geral de Depósitos…

Os da extrema-esquerda têm a cassete metida que toca sempre a mesma coisa: mais salários, menos horas de trabalho, mais direitos, etc., a oposição seja ela socialista, do centro ou da direita, criticam molemente os governos, com insultos mas sem grandes argumentos. Tipo “os cães ladram e a caravana passa impassível”. E os governos vão andando, as leis vão passando, as reformas do Estado nunca se fazem e Portugal vai-se languidamente atrasando até à exaustão.

De repente veio a verificar-se aquilo que há anos todos comentavam circunstancialmente, já que ao mesmo tempo parecia irreal.

Os donos disto tudo sempre existem.

As leis e não só, eram, (são) feitas à medida dos grandes grupos económicos. Fazem-se favores de parte a parte e ao fim garantem-se empregos para uns e contratos faraónicos para outros, mesmo que para isso o Estado e os portugueses sejam escandalosamente prejudicados. Quem vier atrás que fecha a porta.

Esta semana, com Ricardo Salgado detido para interrogatório, foi o máximo para as televisões e jornais. Já estávamos em velocidade de cruzeiro na “silly season”, quando de repente cai uma bomba mesmo a calhar para o negócio. Aumentos a pique das tiragens dos jornais, das audiências das rádios e televisões. E lá vêm uns atrás dos outros, as dezenas ou centenas de comentadores.

Confesso que para formar uma opinião, ouvi bastantes. Mas sempre que ouvia um político comentar, ao fim de poucos instantes mudava de canal, pois ou vinham com a famosa frase do até prova em contrário é-se inocente e de aí não saiam, ou criticavam tudo e todos, como é habitual.

Quando mudei três vezes de canal percebi que à parte a falta de interesse do que diziam, estavam a provocar-me náuseas. Então todos eles foram ministros, secretários de Estado, deputados, autarcas, presidentes de partidos, etc., aprovaram as leis que fizeram de alguns os donos disto tudo e vêm como se nada fosse comentar o estado atual das coisas? Chegámos onde chegámos, porque mesmo os que não roubaram ficaram à porta. Um político comentador, à parte ter muita lata é totalmente desprovido de vergonha. Quando estiveram no Poder deixaram que o país se fosse afundando e agora criticam os que lá estão? Mas de que é feita esta gente? Ferreiras Leite, Marques Mendes, Marcelos, Bagões Félix, Sócrates, Antónios Costa, Pachecos Pereira, etc., etc.

Apesar do zapping acabei por ouvir mais Manuela Ferreira Leite.
 
2) Quanto ao que ouvi:

Estou de acordo com Manuela Ferreira Leite quando disse que não havia necessidade de irem buscar Ricardo Salgado a casa, uma vez que ele tinha proposto a deslocar-se ao TIC.

A Justiça, antes de fazer este estardalhaço, deveria primeiro preparar bem o caso antes de “fazer a festa”. Quem acredita na Justiça quando se trata de poderosos. Por certo que a este nível grandes escritórios de advogados já estão a preparar a defesa e que provavelmente o Estado não vai ter meios para responder com eficácia.   

Como Manuela Ferreira Leite, também não fiquei feliz por um dos maiores grupos portugueses se poder vir a desmoronar e por o seu presidente ir preso. É uma pena se ele cometeu crimes, pois Portugal tem poucos grandes grupos económicos e os países para se desenvolverem precisam de grandes grupos. Honestos.

Dito isto, que a Justiça funcione.

Não me agradou “os pezinhos de lã" como Manuela Ferreira Leite e um comentador do CDS, abordaram o assunto.

O partido socialista não ouvi, mas também deve estar tão comprometido como os outros.

Os partidos estão todos comprometidos. Desde há décadas que o dinheiro flui a rodos para os partidos, todos os políticos vinham de, ou iam para quadros dos grandes grupos, sobretudo do GES e assim se alteraram as leis do país, fazendo-as à medida dos grandes grupos.

O que os políticos comentam, pouco ou nada interessa. Têm todos telhados de vidro. Mesmo os que parecem mais sérios. Alguém acredita que uma pessoa com anos de atividade partidária e cargos políticos não sabe o que se passa, ou passou?

Manuela Ferreira Leite também fez parte de vários governos e do parlamento na altura em que os grandes grupos mais desenvolveram as suas teias. O que fez então em relação a isto? Nada.

Só como comentadora é que começou a disparar tiros certeiros.

Manuela Ferreira Leite disse “Há problemas piores do que os do sector público”, dando o exemplo das auto-estradas vazias que “não são para beneficiar os utentes, são para beneficiar quem as construiu. Não em nome do interesse público mas do interesse privado.” “Achámos que a origem de todos os males é o sector público mas não é. O défice público está quase controlado e o país não cresce”, concluiu.

Pois não. Mas de quem é a culpa? Dos secretários de Estado, ministros, deputados e autarcas que passaram pelos sucessivos governos e que nada fizeram para impedir que as autoestradas vazias fossem construídas para beneficiar apenas quem as construiu.

Este governo também não tem as mãos limpas, (veja-se a lei que promulgou permitindo que o presente de 14 milhões que Ricardo Salgado recebeu, ficasse na Suíça), mas Manuela Ferreira Leite não tem moral para falar em relação ao que tem sido feito por este governo, pois que fez ela de tão relevante quando foi ministra das Finanças? Um desastre: não hesitou em dar luz verde aos famosos SWAPS, negócio ruinoso que comprometeu a receita fiscal nos anos seguintes, colocando-nos à mercê do casino financeiro, acumulando cerca de 3 mil milhões de perdas potenciais para os cofres públicos.
Quanto às reformas Manuela Ferreira Leite também não fez nada.
Nem tinha capacidade para fazer, já que em Novembro de 2008 Manuela Ferreira Leite disse “eu não acredito em reformas quando se está em democracia", mas no mesmo discurso acusou o Governo de então de ter falhado as reformas da Educação, da Saúde, da Administração Pública e da Justiça. Fantástico.

Se não acredita, porque é que aceitou os cargos de maior responsabilidade do país?

Até hoje nenhum governo fez a verdadeira Reforma do Estado. Não quiseram ou não tiveram coragem. Tanto faz. Não fizeram.

Ouvi também Carlos Tavares na Assembleia da República a dizer o que todos queriam ouvir:

Que instaurou 20 processos de contraordenação contra entidades pertencentes ao GES, dando a entender que, ultrapassando nalguns casos as competências da CMVM, fez muitas recomendações e alertas, mas que quem tinha que atuar, (talvez Banco de Portugal e Governo), não deu a devida importância.
Queixou-se também das pressões que sofreu por parte do GES para que houvesse o aumento de capital. (Sentiu-se pressionado mas acabou por aceitar o aumento de capital… patético. Ou não falava nisso por o aumento de capital ser necessário e legal, ou então não tem estofo para aguentar a pressão que é exigida ao presidente da CMVM.)

Gostei muito de ouvir na SIC o painel no qual interveio o José Gomes Ferreira. Esses sim, sem telhados de vidro, expuseram claramente a podridão de tudo isto, dizendo que no fundo, com todas as alterações de leis que foram feitas à medida dos grandes grupos, passamos todos a trabalhar para os grandes grupos económicos. Assalariados, empresas, etc.

Ao ouvi-los fiquei com a nítida sensação de que no fundo foram criados reais monopólios e que o país nunca se poderá desenvolver nestes moldes.
 
E têm toda a razão, pois parece-me evidente que não vivemos num sistema de Liberalismo Económico. Para que vivêssemos um verdadeiro Liberalismo Económico, o Estado não deveria fazer mais que supervisionar, (coisa que praticamente não tem feito, ou têm feito muito mal), e deixar que a economia seguisse o seu curso, deixando todos os agentes económicos crescerem individualmente, o que evidentemente traria enormes benefícios para a nossa sociedade, uma vez que a soma desses interesses particulares promoveria a evolução generalizada.

Adam Smith, economista escocês, que desenvolveu a teoria do liberalismo, apontando como as nações iriam prosperar, afirma que enquanto o liberalismo económico favorece os mercados sem restrições por parte do governo, o Estado tem um papel legítimo no fornecimento de bens públicos.
 

3) Um banco tem que ser supervisionado de muito perto. É uma das principais funções do Banco de Portugal.

Oiço muita gente a falar dos bancos, como se de uma empresa normal privada se tratasse. Podem ser privados, mas são instituições de utilidade pública. É a eles que os cidadãos e as empresas confiam o seu dinheiro e é a eles que a economia recorre para crescer.

Muita gente diz que se deve deixar falir os bancos. As pessoas que o dizem certamente não têm as suas poupanças nesses bancos e deixar falir um banco pode ter um efeito dominó na banca e nos países. Esta crise mundial não começou com a falência do banco Lehman Brothers?

As pessoas em vez de se virarem contra os bancos deviam sim virar-se com toda a sua força contra as instituições do Estado, que têm por obrigação supervisionar as instituições financeiras. Esses sim, são os verdadeiros culpados e responsáveis.

Não tenhamos ilusões, a ganância faz parte do Ser Humano e poucos são os que se tiverem oportunidade não “fogem aqui ou acolá”. Um amigo dizia-me que é tudo uma questão de escala. E tem razão. Mas há escalas que podem ser entendidas com clemência e outras pela repercussão que têm no país não podem ser vistas com a mesma bonomia.  
 
Que bom que era se tudo isto não tivesse acontecido em vão e se as leis viessem a ser alteradas, permitindo um verdadeiro Liberalismo Económico, de forma a que a economia crescesse e Portugal progredisse.

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